sexta-feira, 15 de março de 2013

A nutricionista Primal - Juliana Crucinsky





Entrevista feita por Caio Fleury, do Blog "PRIMAL BRASIL",  com a Nutricionista celíaca Dra Juliana Crucinsky.


Dra. Juliana Crucinsky é nutricionista, graduada pela UERJ. Tem especialização em Terapia Nutricional Enteral e Parenteral (Santa Casa de Misericórdia do RJ), Gestão da Saúde e Administração Hospitalar (Universidade Estácio de Sá/RJ), Nutrição Esportiva (Universidade Gama Filho/RJ) e atualmente cursando a pós graduação em Nutrição Clínica e Funcional, pela VP Concultoria/Universidade Cruzeiro do Sul.

Atuação em Nutrição Clínica, Funcional e Esportiva – atendimento em consultório, hospital e como consultora técnica da ACELBRA-RJ e do site Semlactose.


1- Como você se interessou por alimentação?

Comecei a me interessar durante a adolescência, porque sempre fui muito gordinha. Então comecei a ler alguns textos sobre Nutrição, até que na época do vestibular, acabei optando por esta área.

2- Nos conte mais sobre o seu problema de saúde.

Descobri ter doença celíaca há cerca de 2 anos, meio que “por acaso”. Nunca desconfiei que eu pudesse ser celíaca já que eu não apresentava os sintomas “típicos” da DC (diarréia e perda de peso, por exemplo). Apresentava muitos outros sintomas (enxaqueca, distensão abdominal, prisão de ventre, cansaço, dores musculares e muitas aftas), mas que só passei a relacioná-los ao glúten depois que já estava há um tempo na dieta de exclusão. Comecei a dieta sem glúten numa época em que muitas pessoas aderiram à ela buscando perder peso. Como eu achava isso um contra-senso, já que a maioria dos produtos isentos de glúten contém grande quantidade de amido e poucas fibras, resolvi, numa atitude de crítica, testar em mim mesma esta dieta. De fato, num primeiro momento, eu realmente não perdi peso, porém comecei a perceber uma melhora dos meus sintomas, muitos dos quais eu já havia desistido de usar medicação, pois não funcionavam por muito tempo, como era o caso da enxaqueca. Eram crises tão fortes que me impediam até de trabalhar e para minha surpresa, as crises foram se tornando mais espaçadas e de menor intensidade, até que desapareceram por completo. O resultado de alguns exames acabou sendo prejudicado pela dieta de exclusão, mas o exame genético e a melhora dos meus sintomas confirmaram meu diagnóstico de doença celíaca.

Porém, um ano depois, percebi que meus sintomas respiratórios haviam piorado muito, e acabei me dando conta de que no mesmo período, talvez numa forma de compensação pela falta do glúten, eu havia aumentando significativamente minha ingestão de leite e derivados, além de estar suplementando com whey protein, já que finalmente estava conseguindo fazer uma atividade física regular (coisa que antes da exclusão do glúten, eu não conseguia fazer por muito tempo). Acabei descobrindo que eu também apresentava hipersensibilidade às proteínas do leite, e somente após alguns meses de exclusão completa de todos os laticínios, meus sintomas desapareceram e eu, finalmente, consegui perder peso, desinchar e ganhar massa muscular.

3- Quais os profissionais ou colegas de trabalho que te auxiliaram no tratamento da sua doença?

Quando comecei a suspeitar que o glúten tivesse alguma relação com meus sintomas, a primeira pessoa com quem conversei, foi a Raquel Benati, que na ocasião era a vice-presidente da Acelbra/RJ. Apesar de não ter nenhuma formação na área da saúde, ela possui grande conhecimento no assunto, pois é celíaca há muitos anos, e há anos faz um excelente trabalho de divulgação da DC.

Foi ela quem me indicou um gastroenterologista que conhece bastante a doença celíaca, o Dr. Luiz João Abrahão Jr, e que me ajudou a fechar meu diagnóstico. A partir daí, comecei a pesquisar muita coisa por conta própria e trocar informação e artigos científicos com outros membros das Acelbras. Passei também a fazer parte de um grupo de discussão sobre DC no Orkut, que depois migrou para o Facebook, o Viva sem Glúten, que hj conta com quase 3 mil membros. Na mesma ocasião, passei a me interessar mais pela Nutrição Funcional e acabei resolvendo fazer pós graduação nesta área, o que por sinal, tem me ajudado muito a compreender muitos mecanismos envolvidos tanto na doença celíaca, quanto nas hipersensibilidades alimentares, de um modo geral.

4 – Como foi seu primeiro contato com a alimentação dos nossos ancestrais?

Justamente por conta da minha participação no grupo Viva sem glúten, fiquei sabendo que alguns celíacos, portadores de outras doenças auto-imunes (como diabetes, artrite, etc) mesmo após anos de exclusão do glúten, continuavam apresentando sintomas e estas pessoas, em busca de soluções, acabaram descobrindo na dieta Paleo ou Primal, a solução, para a melhora completa dos sintomas, já que os mesmos pareciam estar presentes por conta de uma “reação cruzada” com os demais cereais.

5- Que tipo de fonte de pesquisas você usa atualmente?

Minha primeira reação à esta forma de alimentação, tão acostumada ao arroz e feijão de cada dia e aos inúmeros alimentos industrializados (mesmo não sendo tão a favor dos mesmos), foi de estranhamento, porém, depois de ler alguns artigos científicos de pesquisadores sérios, como Loren Cordain, Staffan Lindeberg, me senti “mais segura” em continuar minhas leituras, principalmente de alguns blogs e livros que tratam da Paleo.

6- Como você enxerga a posição dos nutricionistas que você conhece, a respeito da alimentação Paleo/Primal?

Pelo menos aqui no Brasil, a Paleo ainda é uma grande desconhecida da maioria dos Nutricionistas e eu atribuo este desconhecimento, principalmente, a um certo preconceito com que a veem, porém tenho professores que a conhecem e até são favoráveis a ela.

O que penso agravar esse preconceito é que alguns defensores da Paleo seguem uma linha mais “cetogênica”, com muito pouco carboidrato, o que a primeira vista, faz lembrar a Dieta Atkins (vale lembrar que dietas cetogênicas tem uma péssima reputação frente aos Nutricionistas dos quatro cantos do mundo).

Entretanto, os estudos apontam para uma enorme variabilidade em termos de composição nutricional encontrada na alimentação dos caçadores-coletores primitivos, em função de sua localização, clima e disponibilidade de alimentos, muitos pesquisadores sérios como o Dr. Cordain e o Dr. Lindeberg, sugerem que a Paleo pode conter uma quantidade moderada (baixa para nossos padrões modernos, mas não tão baixa como na dietas de muito baixo carboidrato) de carboidratos, contidos nas frutas e hortaliças, os “bons carboidratos”, que fornecem calorias para o cérebro, acompanhadas de fibras (indispensáveis ao bom funcionamento do intestino) e de vitaminas e compostos bioativos, de ação antioxidante.

Atualmente existe um consumo exagerado de carboidratos refinados, como o próprio açúcar (puro ou “escondido” em muitos alimentos industrializados) e alimentos preparados com farinhas refinadas (pães, bolos, biscoitos, salgadinhos, pizzas, etc) associada a muita gordura trans, laticínios e aditivos químicos, o que contribui muito para a “má fama” que os carboidratos tem hoje, no sentido de favorecerem a obesidade e doenças como o diabetes. Porém, a medida que se escolhe fontes mais saudáveis de carboidratos (como as frutas e hortaliças), muito trabalho é poupado ao nosso metabolismo, garantindo assim, um fornecimento constante (porém não excessivo) de glicose para o cérebro, e permitindo que as proteínas sejam melhor aproveitadas em suas principais funções, como a formação e manutenção da massa muscular, pele, defesa, etc.

Eu vejo muitos aspectos positivos na Paleo e penso que a mesma pode ser útil, desde que bem orientada, na prevenção e no tratamento de diversas doenças do mundo ocidental moderno, como o Diabetes, a Obesidade, o Câncer e as doenças auto-imunes.



7 – Você enxerga alguma possibilidade de uma maior aceitação da dieta e compreensão sobre nutrição dentro do futuro próximo?

Sim, desde que a mesma não seja tratada com tanto “extremismo” ou como “dieta da moda’ como algumas dietas muitas vezes o são, e desde que os autores não se permitam distanciar-se da Bioquímica e da Fisiologia.

8 – Quais são os três principais conselhos que você daria para quem está interessado em alcançar excelência em todos os aspectos, seja no âmbito pessoal ou profissional, ser mais feliz, ou ter mais saúde e qualidade de vida?

Acho que o mais importante é fazer o que se gosta, é trabalhar com prazer, com alegria, e acreditar no que faz, porque quando o que se faz se torna um fardo pesado, o sucesso fica cada vez mais distante, sem descuidar, obviamente, de hábitos de vida mais saudáveis.

Obrigada Juliana, pela excelente entrevista!

Conheça mais sobre a Dieta Paleo ou Dieta dos nossos ancestrais:

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